quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A primeira vez agente nunca esquece...

E que aqui nunca foi uma garotinha que sonhava em usar seu primeiro sutiã?
Aposto que a vontade parava ai, e nunca nem se interessavam em saber de onde vinham e como surgiram os tão sonhas sutiãs...
Foi em 1907 que a revista Vogue utilizou o termo Brassière (sutiã em inglês) pela primeira vez. No início do século XX as mulheres se espremiam em espartilhos, confeccionados com barbatanas de ossos de baleia ou de metal, buscando uma silhueta tipo ampulheta, com quadris e seios fartos, contrastando com uma cintura absurdamente fina. Tal ideal de beleza provocava problemas de saúde, alguns até fatais (burrice), uma vez que os espartilhos comprimiam o estômago, parte dos pulmões e outros órgãos. No decorrer da primeira década do século passado, bailarinas como Isadora Duncan, Loie Fuller e Mata Hari, assim como os estilistas Paul Poiret e Madeleine Vionnet, além de algumas feministas, aos poucos, influenciaram o look da época e uma nova silhueta, mais solta e livre de amarras foi sendo delineada. Dentro desse contexto o sutiã foi ganhando importância crescente.
Já na segunda década do século as mulheres, livres do espartilho, tentavam se espelhar nas estrelas de cinema, que começavam a despontar como ícones. Com a I Guerra Mundial, a simplicidade das enfermeiras substituiram as atrizes no imaginário coletivo. Ao mesmo tempo a necessidade de se trabalhar em fábricas e, assim movimentar-se mais livremente, fez o uso de cintas elásticas mais freqüentes.
Durante os chamados “loucos” anos 20, a moda era roupas mais curtas, decotadas e soltas no corpo. Durante essa época os seios eram comprimidos e empurrados para baixo e para isso se prestava o sutiã de Mary Phelps Jacob ou as faixas e bandanas amarradas ao corpo. Eram confeccionados em seda, crepe ou algodão. Nesse período Chanel, com suas atitudes e roupas confortáveis, algumas emprestadas do guarda-roupa masculino, apontava a direção às demais, para uma vida menos reprimida e mais liberal. Indo na direção contrária, no final do decênio, uma imigrante russa, Ida Rosenthal, junto com seu marido, fundou a Maidenform e desenvolveu sutiãs, pela primeira vez, com tamanhos de taças diferentes, que não achatavam as mamas.
Na década seguinte, a queda da bolsa de NY e suas conseqüências na economia mundial fizeram com que a moda ficasse mais contida, sóbria, quando a elegância tinha mais a ver com a austeridade. Os vestidos se tornaram mais compridos, os decotes continuaram nas costas e, mais do que nunca, as estrelas de Hollywood eram copiadas pelas mulheres comuns e o figurino das divas era esplendoroso (em tempos difíceis economicamente, a moda enaltece o luxo, o sonho e a beleza). Em 1930 a Warner Brothers Corset Company, que havia comprado os direitos da patente de Mary Phelps Jacob, criou um sutiã elástico, que contornava e não escondia as formas. A  empresa Kestos Company of América havia introduzido, no final dos anos 20, um sutiã composto por dois triângulos com elásticos que cruzavam nas costas e amarravam-se na frente. A partir daí a lingerie passou a ter bojos acolchoados e as armações de arame se fizeram notar. Tudo para realçar o busto.
Em 1939, o excêntrico milionário, aviador e empresário cinematográfico Howard Hughes, fascinado pelas voluptuosas curvas de Jane Russel, desenvolveu, especialmente para realçar suas generosas medidas, um sutiã especial, segundo alguns, baseado na aerodinâmica dos aviões. (Há quem diga hoje que a engenharia dos sutiãs é semelhante à das pontes suspensas, pelas ações de força e sustentação). Assim a bela morena apareceu nas telas no filme O Proscrito (The Outlow). Durante a II Grande Guerra (1939-1945) a escassez de seda obrigou a indústria têxtil a buscar novos materiais, surgindo as fibras sintéticas. Incorporadas aos sutiãs, elas deixaram os modelos mais resistentes e elásticos. O cinema continuou a exercer seu fascínio e as musas com seios fartos, como Jane Russel e Lana Turner, fizeram escola. Esta última ficou conhecida como sweater girl, com seus seios pontudos pelos bojos cônicos, protuberantes É nessa época que os modelos de vários tamanhos de bojo, Maidenform viraram febre entre as mulheres. Em 1948 Frederick Mellinger famoso como Frederick de Hollywood, desenvolveu um sutiã acolchoado que inflava com ar. Mas sujeito a vazamento, não foi para a frente.
A década de 50 viu a ascensão do new look de Dior, que nada mais era que uma leitura dos desejos pós-guerra, de opulência, beleza e leveza. As mulheres voltaram a ficar em casa, arrumadas para seus maridos, e, isso significava, entre outras coisas, voltar a usar cintas como se fossem novos espartilhos, para manter a postura e a cintura fina. Os sutiãs aramados, tipo cesta, que sustentavam e suspendiam os seios, recheavam os vestidos. A Marcel Rochas foi atribuído o corselet, uma versão mais leve e moderna do espartilho, mas cujo efeito seria o mesmo: diminuir o perímetro da cintura e ressaltar o busto. As musas do momento eram Grace Kelly, Audrey Hepburn, Marilyn Monroe, Sophia Loren e Brigitte Bardot. Em 1958 surgiu a lycra (elastano), que logo foi cooptada pela indústria de lingerie.
Os anos 60 foram os mais importantes do século XX, uma vez que influenciou todo um modo de vida. A juventude assumiu uma postura contestatória, os papéis tradicionais masculinos e femininos foram postos em questão. A liberdade dos hippies contrastava com os valores burgueses de seus pais. Os cabelos femininos encurtaram, assim como as saias. Os seios ficaram mais livres, em sutiãs sem bojo nem arames, mais leves e confortáveis. No início da década as alças reguláveis, de elástico, foram criadas oferecendo maior conforto. Entre o final dos anos 60 e o início dos 70 feministas americanas foram às ruas e queimaram seus sutiãs, que seriam, para elas, símbolo da opressão feminina. Muitas mulheres foram influenciadas por essa forma de pensar, suprimindo a peça do seu vestuário. Os seios pequenos passaram então a ser mais valorizados.

Na década seguinte predominaria a indefinição, mas o movimento feminista já havia sido deixado de lado e as mulheres ascendiam a postos políticos e, mais influentes, adotando os paletós e tailleurs no trabalho. Os jeans ganharam espaço no guarda-roupa de todos e a uniformização das roupas unissex, foram ampliando seu raio de ação. Ao mesmo tempo, na contra-mão deste aparente desleixo, o glam rock, com David Bowie na Inglaterra trouxe o brilho e o glamour um pouco de volta ao figurino, especialmente nas discotecas, à noite, quando tudo valia, inclusive copiar o estilo de John Travolta, Olívia Newton John e outras estrelas de cinema, em filmes musicais. A noite foi feita para dançar. Agora o sutiã, ainda em baixa, era abolido, especialmente à noite. Decotes profundos e paletós usados sem nada a não ser a pele era o look sexy do momento.
Entre 1980 e 1990 houve uma inversão na ordem estabelecida. Os yuppies, jovens executivos endinheirados de um lado, são símbolo do período. As mulheres executivas eram altamente valorizadas. Paralelamente, o movimento punk, surgido nos últimos anos da década anterior, influenciou a moda, adotada por grandes estilistas. A busca por uma vida mais saudável levou as mulheres para a academia, em aulas de ginástica aeróbia, o grande hit do momento, e é aí que elas descobriram que o sutiã poderia ser um grande aliado. Que sua função não era meramente de sedução, mas também de sustentação. Modelos específicos para esportes foram lançados e seu uso voltou a ser indispensável. No final desse decênio surgiu Madonna, hoje uma das maiores pop stars. Seu figurino inicial deixava propositalmente à mostra os sutiãs, em várias sobreposições e daí para a frente, o que antes era de bom tom ficar escondido, já poderia ficar à mostra. Em 1990, Jean Paul Gaultier criou o figurino do show Blonde Ambition em que a loira exibia sutiãs cônicos, dourados. O sutiã voltou assim ao posto de destaque e de sedução.
Na década seguinte a globalização tomou conta do mundo e a tecnologia, a indústria têxtil. A busca pelo corpo perfeito, cheio de curvas “naturais” elevou o status do sutiã novamente. Surgiram os push-ups, que levantavam e juntavam os seios, oferecendo um colo provocante. Assim a chamada lingerie de atributo passou a ser básico, especialmente por aquelas mulheres que não queriam passar por alterações radicais, como cirurgias plásticas. Toda mulher poderia ter os seios que quisesse com a nova lingerie. Os bojos voltaram a circular, assim como as armações aramadas, mas desenvolvidas com tecnologia de ponta. Para turbinar os seios, tudo era e ainda é válido: bojos recheados de gel, infláveis...
O sutiã do século XXI traz a tecnologia embutida em seus componentes. A industria têxtil, ultra evoluída, apresenta a cada estação, novidades mais interessantes. As microfibras e super microfibras oferecem o conforto adequado, assim como as composições com elastano,  compressão suficiente para modelar os corpos. É possível disfarçar ou valorizar o que se quiser, bastando para isso escolher a lingerie correta. Hoje o luxo não está mais associado ao desconforto e o mercado oferece a possibilidade de se ter um underwear com aspecto sedutor sem sofrimentos. Há modelos específicos para tudo, de teenagers a mulheres maduras, passando pelas gestantes e mães recentes. Os modelos sem costura, em tecidos leves, oferecem extremo conforto. O sutiã pode-se dizer que é a peça fashion que, ao longo de seu centenário passou por evolução constante, sempre associada ao ideal de beleza feminino.
Obs: o texto foi publicado originalmente na revista Essencial Lingerie

Baby, semana que vem postarei só sobre os estilos, hoje o post ficou extenso demais....
Super beijoooo!!!


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